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domingo, 28 de novembro de 2010

PROJETO ARTÍSTICO PEDAGÓGICO

1 INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea pós-moderna depara hoje com inúmeros desafios dada a sua complexidade e requer como afirmado por Lyotard, apud Moreira, (2010) “um olhar pontual na pluralidade e diversidade humana”. Atentas à pluralidade cultural, as manifestações artísticas atuais são de cunho político, contrárias ao formalismo, “ora assumem a estrutura desconstrutivistas das performances e intervenções, ora as formas artísticas tradicionais” enfocando questões de raça, sexualidade, gênero dentre outras, Moreira (2010). E nessa complexa sociedade, o arte educador se vê desafiado ao enfrentamento de problemas nela imbricados. Alguns como: o descompromisso social do poder público, as questões ambientais, o avanço das drogas, a exclusão escolar e social, o individualismo, a segregação, a desestruturação familiar, o consumismo exacerbado por parte de alguns em detrimento da miséria de outros. O ser humano é cada vez mais coisificado. Situações que em grande parte é gerada pelo capitalismo, “onde imagens persuasivas ao consumo são elementos predominantes” (Hernández, 2003 apud Valença 2009).
As artes visuais sinalizam com grande êxito de contribuição para o enfrentamento destas dentre outras questões, devido ao trabalho crítico com as imagens, haja vista que na sociedade pós-moderna o advento das visualidades está mais presente em tudo e em toda parte no cotidiano das pessoas. Nada como as imagens para atrair o olhar do jovem atual! Mas como provocá-lo a direcionar esse olhar para algo diferente que não seja apatia, alienação e persuasões negativas encontradas fora da escola, nas ruas e, ver-se incluso, co-responsável por uma melhor qualidade de vida não somente para si, mas para todos?
Amparada em estudos de teóricos como: HERNÁNDEZ, P. FREIRE, MORENO, LA TAILLE, NOGUEIRA, GUIMARÃES, OLIVEIRA, JORDÃO, FISCHMAN, MOREIRA, LIBÂNEO, VALENÇA, MORENO, VYGOTSKY e Outros. Bem como na Carta das Cidades Educadoras, e em outras pesquisas pertinentes ao assunto é que elaborei a proposta de intervenção contida neste projeto artístico/pedagógico, intitulado VIVEIRO DE PLANTAS NA ESCOLA! VAMOS ADUBAR ESSA IDÉIA?
2 JUSTIFICATIVA

Após delimitar três quadras de duas ruas que se cruzam no bairro Cidade Jardim, em Goiânia: duas quadras da Avenida Sonnemberg e uma na Avenida Pedro Ludovico ao fazer um percurso etnográfico na cidade, com um olhar diferente do habitual, definiram os espaços que serviriam como porta de entrada para uma ação educativa na cidade (um requisito parcial da disciplina de estágio 3): um viveiro de plantas e um colégio público.
Pude então perceber a riqueza das várias culturas que se entrecruzam na dinâmica da cidade. Ao observar as visualidades que norteiam a região, incluindo aí, a criatividade presente nos muitos outdoors, mas vi também que muitos deles nem sempre são educativos, dado o conteúdo de suas mensagens. Alguns reforçam o consumismo, pois o capitalismo cria a necessidade de compra nos indivíduos desprevenidos, outros, incitam à prática de vícios como o alcoolismo (ver anexo A), por exemplo, que consequentemente, em médio prazo poderá contribuir para elevar o número de doentes viciados excluídos na sociedade. Em minhas entrevistas durante o percurso foi relatada pela vizinhança da escola escolhida como porta, uma ocorrência recente em suas imediações. A prática de alcoolismo entre os jovens do ensino médio após as aulas no período matutino.
Ao ver in loco, a relevância das várias culturas que permeiam o espaço urbano, a beleza contida na diversidade que compõe o tecido social, mas em especial, o sofrimento nos olhos daqueles socialmente excluídos, é que percebi a necessidade de uma ação de intervenção que contribua, ainda que, em longo prazo, para o futuro de nossos jovens e para um meio ambiente com melhor qualidade de vida para os cidadãos.
Foi impossível ficar alheia, no dia-a-dia, aos resultados danosos que a exclusão e a indiferença nessa sociedade capitalista têm causado a tanta gente, em um tempo onde o homem vale menos que a mercadoria. É tanta indigência, solidão, negligências, vícios: sejam idosos solitários dormindo em calçadas, ou em seus próprios carrinhos de lixo, alguns doentes sem ter onde reclinar a cabeça. Outro quadro rotineiro foi encontrar crianças e jovens a perambular pelas ruas no contra turno, ou mesmo fora das escolas. Todos em situação de risco. Expostos, vulneráveis a acatar o que não lhes convêm: a violência, o consumo de drogas, por exemplo.
Não foi raro deparar-me, durante os dias de percurso e imersão etnográficos, com jovens entorpecidos, perdidos de si mesmos nas calçadas da cidade, sem rumo, alguns já apresentando problemas mentais. Talvez consequências de fugas pelas drogas. Muitos deles já nem frequentam mais a escola ou nunca a frequentaram.
Os governantes poderiam se comprometer mais com a educação e investir mais em políticas públicas para as crianças e os jovens. Quanto à escola, se esta buscar mais parcerias com a comunidade a fim de proporcionar meios para que seus educandos criem mecanismos que tragam mais qualidade de vida para si e para a própria comunidade, talvez o destino de muitos indivíduos seja bem diferente.
Seja por falta de oportunidade, de objetivos dos indivíduos, de acesso à informação, formação, ou, ao lazer, seja por falha do poder público, da escola, negligência da família, individualismo da sociedade, a exclusão social está presente.
A partir disso, surgiu a inquietação: como contribuir tendo como instrumento as artes visuais a fim prevenir para que crianças e jovens de agora, não venham a ter no futuro, o mesmo destino daqueles infelizes abandonados à própria sorte percebidos no percurso etnográfico de estágio? Como fazer uma ponte entre escola, família, comunidade através das artes visuais, em que a ação dos estudantes leve melhor qualidade de vida à cidade?
Dentre as inúmeras possibilidades de ações educativas encontradas no percurso, sejam em conversas informais com as pessoas locais, registrando com apontamentos, entrevistas, fotografia ou vídeo, seja apenas observando
ao máximo, o contexto elegi então, um viveiro de plantas “Garden Nobilis Paisagismo” como porta de entrada para a intervenção, devido ao grande potencial educativo desse espaço e o Colégio Estadual Cultura e Cooperativismo. A leitura inspirada da vivência nessa fase do estágio originou um poema e um trailer que serviram de norte para a pretensa intervenção.
Espera-se que esta atividade motive os estudantes a promoverem, senão dessa natureza, outras ações na escola. Que a ação conjunta entre escola e comunidade possa resultar em maior interação entre as mesmas, e em maior envolvimento dos alunos com seu meio. Nas concepções de Vygotsky, o homem transforma a realidade da sociedade ao mesmo tempo em que se transforma.
Diante do exposto é que se propõe pela via das poéticas contemporâneas uma arte-educação socioambiental de caráter preventivo através deste projeto artístico/pedagógico.
3 OBJETIVOS
3.1 OBJETIVOS GERAIS

• Promover a partir das artes visuais, ações conjuntas que viabilizem o envolvimento entre os estudantes, sua escola e a comunidade. Para que a experiência estética da participação faça emergir no educando e em todos, suas potencialidades criativas, poéticas, críticas e humanas.
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• Elevar a auto-estima dos estudantes não somente os da escola-porta, mas da cidade em geral, ao buscar atrair suas atenções, pela via das poéticas visuais, para a relevância de suas potencialidades na modificação da própria realidade.
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3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Refletir junto ao grupo de alunos do ensino fundamental e médio do Colégio Estadual Cultura e Cooperativismo sobre questões socioambientais e consumismo. Por um meio ambiente saudável para todos, a partir do olhar artístico/crítico sobre as visualidades que os circundam.

• Criar situações que propiciem aos educandos o desenvolvimento de valores humanos tais como: Alteridade, cooperação e inclusão.

• Elogiar a iniciativa do grupo mostrando que as tentativas de transformação da própria realidade são atitudes positivas frente ao mundo.

4 METODOLOGIA
Numa abordagem sociointeracionista dialógica e interdisciplinar, tendo como referenciais as intervenções contemporâneas educativas da arte conceitual da artista Jenny Holzer (com suas frases de efeito) e no artista contemporâneo brasileiro Zecésar (José César Teatini de Sousa Clímaco), professor da Universidade Federal de Goiás, que trabalha com materiais desprezados pela cidade como as sucatas é que se propõe contribuição com esta ação educativa na cidade a partir de experimentações em Artes Visuais. De acordo com Jordão (2010), “Para a Arte Conceitual, o que importa é a invenção da obra, o conceito que é elaborado antes de sua materialização”.
A culminância dessa intervenção será a elaboração de uma obra artística feita coletivamente em parceria com um grupo de alunos do Colégio Estadual Cultura e Cooperativismo, procurando incluir não só a escola, mas a todos no ato de educar. Mostrando aos participantes, que existem outras formas de se fazer arte além daquilo que comumente se pratica em muitas escolas: o desenvolvimento de destrezas ou habilidades manuais, como pontua Hernández (2000). Daí a necessidade de experimentação a partir de outros conceitos, outras tecnologias. “Pensar com as ferramentas midiáticas: passagem de uma didática instrumental para uma arte-educação, aproximando-se de uma pedagogia crítica” (Estágio I, apud GUIMARÃES; OLIVEIRA; 2010).
Espera-se que os efeitos resultantes dessa ação de intervenção na cidade redundem em mais participação e interação entre estudantes e comunidade. “Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação” Paulo Freire (1996).
Etapa 1 - Como atividade prévia, será solicitada aos participantes a pesquisa na internet sobre artistas que fizeram ou fazem intervenções na cidade com o tema meio ambiente.
Etapa 2 - Promover uma excursão a pé com o grupo de alunos da educação básica ao viveiro, com a finalidade de ampliação dos estudos sobre meio ambiente e imagens com registro fotográfico e fílmico feito pelos educandos. Durante o percurso serão feitas provocações sobre as visualidades que permeiam a região e a idéia de consumismo presente, em especial, os outdoors. Levando os educandos à desconstrução, reconstrução ou construção de conhecimentos numa forma de, como afirma Fischman (2004), “investigação e reflexão sobre o que vemos”.

Etapa 3 – Os Educandos e eu construiremos uma instalação (espécie de painel) feita com material de sucata, que expresse o convite à criação de um viveiro de plantas na escola. Será afixado sobre um muro da referida escola por no máximo uma semana e ficará voltado para a congruência da Avenida Sonnemberg com a Rua Antonio Santana.
Ainda que já tenha definido o tipo de obra artística a ser realizada neste projeto, não se trata de uma proposta fechada. Deixarei em aberto até a segunda atividade (visita ao viveiro) para conhecer melhor a turma e, só então, apresentar a proposta artística, mas dialogar com os estudantes e acrescentar suas contribuições para a definição final. Conforme é indagado por Freire, “como posso dialogar, se me fecho à contribuição dos outros, que jamais conheço, e até me sinto ofendido com ela?” Freire (2002).
A ação de intervenção será registrada por fotografias e vídeo e postado no blog.
Obs. A designer e paisagista Maialú de Freitas, do viveiro Garden Nobilis coloca-se à disposição como suporte sobre as dúvidas iniciais, gratuitamente, aos alunos e escolas públicas interessadas em implantar viveiro de plantas.

5 AVALIAÇÃO
Reflexão sobre o processo.

6 CRONOGRAMA
Datas: 21, 23 e 25 de novembro, 2010.
Dia 21, 1º momento - Pesquisa prévia pelo grupo na internet
Dia 23, 2° momento – Visita ao viveiro
Dia 25, 3º momento – elaboração da obra artística

7 TEMPO DE DURAÇÃO
Para a intervenção: três encontros de 04 horas cada. Carga horária total a partir da elaboração do projeto até sua culminância: 40 horas.

8 RECURSOS
Um Computador com internet
Uma Máquina fotográfica
Material de sucata: uma janela em desuso ou placa de MDF alumínio ou metal, arame, prego, tarugos de madeira ou metal.
Vasos de plantas floridas.
Espuma floral.
Um Banner (confeccionado por um técnico a partir de fotos do viveiro e mensagem feita em parceria entre o grupo de alunos e eu).
Acrescentar recursos, conforme o que for estabelecido coletivamente após o segundo encontro.




9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FISCHMAN, Gustavo E. Reflexões sobre imagens, cultura visual e pesquisa educacional. In: CIAVATTA, Maria e ALVES, Nilda (orgs.). A Leitura de Imagens na Pesquisa Social – História, Comunicação e Educação. São Paulo: Cortez, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 5ª Ed. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978.
____________. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra. 1996. (Coleção Leitura).
GUIMARÃES; OLIVEIRA; Dimensões educativas: Construção de uma Proposta. In: Módulo 07. Licenciatura em Artes Visuais. Universidade Federal de Goiás. Faculdade de Artes Visuais. Goiânia: FUNAPE, 2010.

HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000.
JORDÃO, Paulo Veiga. Arte Conceitual. Módulo 07. Licenciatura em Artes Visuais. Universidade Federal de Goiás. Faculdade de Artes Visuais. Goiânia: FUNAPE, 2010.
LA TAILLE, Yves de. ET al. Teorias Psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus, 1992.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1990.
MÓDULO 04. Licenciatura em Artes Visuais. Universidade Federal de Goiás.
Faculdade de Artes Visuais. Goiânia: FUNAPE, 2009.
MORENO, Ciriaco Izquierdo. Educar em Valores. São Paulo: Paulinas, 2001. (coleção ética e valores).
Revista cidades. Goiânia: ano IV, 48 Ed; março 2010.
MOREIRA, Terezinha Maria Losada. A Questão da Criatividade Na Arte Contemporânea. In: Módulo 07. Licenciatura em Artes Visuais. Universidade Federal de Goiás. Faculdade de Artes Visuais. Goiânia: FUNAPE, 2010.
NOGUEIRA, Monique Andries, Formação cultural de professores ou a Arte da Fuga. Goiânia: Editora UFG, 2008.
VALENÇA, Kelly Bianca Clifford. Ensino de Arte e Formação Docente Frente à Pluralidade imagética Contemporânea. In ASSIS, Henrique Lima;
RODRIGUES, Edvânia Braz Teixeira (orgs) e outros. In: O ensino de artes visuais: desafios e possibilidades contemporâneas: SEDUC, Goiânia, 2009.
VYGOTSKY, S.L; LURIA. R. Estudos sobre a história do comportamento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

SITES CONSULTADOS

http://bijari.com.br/blog/?p=666 Acesso em 29/09/10.

http://ead.fav.ufg.br/file.php/1439/Cartadascidadeseducadoras.pdf Acesso em 15/08/10.
http://mechanismm.com/blog/?p=59 Acesso em 29/09/10.
WWW.revistacidades.com.br Acesso em 09/09/10.

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